Everyone is a moon, and has a dark side which he never shows to anybody... Mark Twain
Tuesday, December 12, 2006
Sunday, December 10, 2006
Blue Blue Sky
I only know what I can see
So I imagine what could be
Where the horizon cuts the air
Look for me out there
Someday I'll touch the blue blue sky
Someday I'll touch the blue blue sky
If I could kiss the Earth goodbye
And cruse the never ending sky
Where the horizon cuts the air
Wait for me down there
Someday I'll touch the blue blue sky
Someday I'll touch the blue blue sky
Alan Parsons Project
Friday, December 08, 2006
Já lhe tinham dito que andava triste. Os sorrisos aconteciam mas tinham a névoa dos olhos a acompanhá-los e assim pareciam dias de inverno: cinzentos e frios.
Naquela manhã, como nas anteriores, assolou uma tristeza mal o acordar lhe fixou o olhar no tecto. Enroscou-se debaixo do edredon quente e sentiu vontade de continuar ali, protegida do frio e do resto.
Contrariou-se e partiu para mais um dia cheio de rotinas inesperadas. Bica tomada à pressa, fazendo companhia a um sonho, ao balcão do café com nome de cidade italiana. Desde Novembro que todos os dias comia um sonho de manhã como se ao mastigar a suave massa frita conseguisse dirigir todas as outras suas vontades.
Não gostava de fazer planos, aprendeu a viver o dia à dia, sem esperar nada de especial da vida nem das pessoas. Escondia-se na piada das pequenas coisas, fingido surpreender-se e aprendeu a caminhar e a falar suavemente, dando-lhe um ar de distanciamento e de resistência.
O carro lá pegou, o rádio lá tocou, o isqueiro lá se perdeu e ela lá foi para um quarto andar de um prédio da 'city' onde um grande gabinete e um grande monte de papeis e de responsabilidades a esperavam.
Hoje que tinha querido ir tratar de arranjar quem lhe podasse as árvores, que queria ter ido acender a lareira e brincar com os cães. Hoje que lhe apetecia enrolar-se na cama com alguém, que lhe apetecia fugir mais cedo para perto do mar, não a deixavam. A agenda andava atrás dela nas mãos da secretária: é às s 11 horas ali..às 15 acolá, mas ainda tem que passar cá..no final do dia. Que merda, pensou!
Almoçou à pressa e não gostou do que ouviu. As lágrimas ainda assolaram na garganta mas foram engolidas com o pato e com o arroz. Molhou-se porque não usa chapéu de chuva, aturou 10 pessoas as masturbarem-se a uma mesa de reuniões e voltou a molhar-se a caminho da Mexicana.
Era o final de um dia extenuante mas ainda conseguiu questionar-se porque os bolos estavam num balcão e a máquina de café no balcão em frente. Sem fome, pediu uma miniatura só para observar os movimentos do empregado de mesa.
Olhou para o ambiente, achou tudo feio, incluindo a horrorosa da empregada da caixa e foi ao w.c. Cansada, sabia que aquela hora só conseguia concentrar-se em pormenores. Reparou no lavatório, em inox, num modelo avantgard oposto ao estilo e clientes do café: só mamutes! Gostou das despropositadas decorações de Natal e ainda concluiu que se houvesse ali um sofá era capaz de fumar um cigarro!
Mas o desencanto completo do dia estava ali a dois segundos quando o olhar rodou com as mãos molhadas, procurando as toalhas e encontrou o secador das mãos.
Detestava secadores de mãos, o barulho absurdo, o calor exagerado e aquela posição de mãos que parece que esperam as algemas. O desespero subiu tão alto que concentrou todos desencantos das últimas horas.
Saiu, pensando no poder dos pormenores. Suspirou: a leoa da savana agora queria mesmo ser só de peluche e encontrar uma almofada.
Sunday, December 03, 2006
This is just a little samba,
Built upon a single note
Other notes are bound to follow,
But the root is still that note
Now this new one is the consequence,
Of the one we've just been through
As i'm bound to be the unavoidable consequence of you
There's so many people who can talk
And talk and talk and just say nothing,
Or nearly nothing
I have used up all the scale i know, and at the end i've come to nothing,
Or nearly nothing
So i come back to my first note,
As i must come back to you
I will pour into that one note,
All the love i feel for you
Anyone who wants the whole show,
Re mi fa sol la si do
He will find himself
with no show,
Better play the note you know
Tom Jobim
Friday, December 01, 2006
Todos se lembram da I just wanna make love with you, de 1995, escolhida para o spot publicitário da Coca Cola.
Esta senhora, poderosa, dos R&B, nasceu, e ainda bem, em 1938 e ainda continua a cantar. Este ano foi editado All the Way.
Aqui fica um video com a voz dela e fotos de Man Rain...A musica é do seu primeiro album, de 1961, At Last.
comentário 1 : Que pena serem tantas fotos de mulheres nuas, em vez de homens! rs*
comentário 2 : Não se choquem os mais púdicos, a impressão é só estetica!
Aqui fica um beijo da Lua
Wednesday, November 29, 2006
Há imagens que nos fazem lembrar a magia!
Até lembrei da Fada Oriana, da Sophia, e fui buscar
um excerto.
Ah..se a vida fosse assim tão simples, tão dual!
Possivelmente tambem morreríamos de tédio porque o prazer da simplicidade
deve estar no facto de nos excedermos na complexidade.
Bem...vamos às fadas e aos duendes!
Há duas espécies de fadas: as fadas boas e as fadas más.
Sunday, November 26, 2006
You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny
...para quem o tempo acabou...ficam as palavras escritas numa eternidade esperada
Wednesday, November 22, 2006
Sunday, November 12, 2006
(…) Sou eu mesma, como vedes; sim, sou eu aquela verdadeira dispenseira de bens, a que os italianos chamam Pazzia e os gregos Mória. E que necessidade havia de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante? Se há alguém que desastradamente se tenha iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me conhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras que são a imagem sincera do pensamento. Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão. Qualquer, pois, que seja o raciocínio feito para se mostrarem diferentes do que são, dois compridos orelhões descobrirão sempre o seu Midas.(…)
in Elogio da Loucura, Erasmo de Roterdão
Thursday, November 09, 2006
Tuesday, November 07, 2006
Se tu viesses ver-me
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…
Florbela Espanca
Sunday, November 05, 2006
a Conchita García Lorca
La luna vino a la fragua
con su polisón de nardos.
El niño la mira mira.
El niño la está mirando.
En el aire conmovido
mueve la luna sus brazos
y enseña, úbrica y pura,
sus senos de duro estaño.
Huye luna, luna, luna.
Si vinieran los gitanos,
harían con tu corazón
collares y anillos blancos.
Niño déjame que baile.
Cuando vengan los gitanos,
te encontrarán sobre el yunque
con los ojillos cerrados.
Huye luna, luna, luna,
que ya siento sus caballos.
Niño déjame, no pises,
mi blancor almidonado.
El jinete se acercaba
tocando el tambor del llano.
Dentro de la fragua el niño,
tiene los ojos cerrados.
Por el olivar venían,
bronce y sueño, los gitanos.
Las cabezas levantadas
y los ojos entornados.
¡Cómo canta la zumaya,
ay como canta en el árbol!
Por el cielo va la luna
con el niño de la mano.
Dentro de la fragua lloran,
dando gritos, los gitanos.
El aire la vela, vela.
el aire la está velando.
Federico García Lorca, 1928
Sunday, October 29, 2006
Que hei-de eu fazer
Eu tão nova e desamparada
Quando o amor
Me entra de repente
P´la porta da frente
E fica a porta escancarada
Vou-te dizer
A luz começou em frestas
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amada e amares
Dirás sempre palavras destas
P´ra te ter
P´ra que de mim não te zangues
Eu vou-te dar
A pele, o meu cetim
Coração carmesim
As carnes e com elas sangues
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
é cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
E se um dia a razão
Fria e negra do destino
Deitar mão
À porta, à luz aberta
Que te deixe liberta
E do pássaro se ouça o trino
Por te querer
Vou abrir em mim dois espaços
P´ra te dar
Enredo ao folhetim
A flor ao teu jardim
As pernas e com elas braços
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
Mas se tudo tem fim
Porquê dar a um amor guarida
Mesmo assim
Dá princípio ao começo
Se morreres só te peço
Da morte volta sempre em vida
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
Da morte volta sempre em vida
Sérgio Godinho, Ligação directa
Friday, October 20, 2006
gosto de olhar as crias
e de perder-me de amor por elas
gosto do azul da terra
e de fogo na lareira
gosto de fruta com sumo
e da chuva nas janelas
gosto do cheiro de terra molhada
e da pele morena de verão
gosto do livro aberto
e do amor de fogueira
gosto do cheiro da terra
e de histórias de fadas
gosto da força do mar
e das ondas no paredão
gosto da imensidão do azul
e da lua feiticeira
gosto do riso aberto
e de piscar-te o olho
gosto do vinho no copo
e dos pés em cima da cadeira
gosto de flores na terra
e das estrelas no céu
gosto da flanela no Inverno
e de pé descalço no verão
gosto de morder-te os lábios
e de beber a água na fonte
gosto do riso aberto
e da paz do silêncio
gosto do preto e do branco
e no colo, o meu cão
gosto de tacão alto
e do perfume da alfazema
gosto da tua pele
e das tuas maos longas
gosto de olhar os rostos
e de quem aceita os seus medos
gosto de moinhos de água
e dos ventos de monção
gosto da musica da noite
e das luzes da cidade
gosto do rei de copas
e de heroinas de espadachim
gosto do vinho morno
e da cor da paixão
gosto de café amargo
e dos teus beijos doces
gosto de dormir na areia
e de enrolar-me a ti
ainda não sabes nada de mim?!
Tuesday, October 17, 2006
A Lua (dizem os ingleses),
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma idéia se perde.
E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.
Sim, todos os meus desejos
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando.
Fernando Pessoa
Saturday, October 14, 2006
Quantas noites frias
a tua ausência me despiu
e gelou
sem poder tocar-te
na pele macia
que me vestiu
desde que nasci.
São, ainda, as tuas mãos
que agarro
quando o chão que piso
é feito de água
Não choro,
não morri
não estremeço
e não me amarro
mas fecho os olhos
e vejo-te
porque hoje voltaste
a estar aqui
minha mãe, meu amor,
minha mágoa.
Saturday, October 07, 2006
Thursday, October 05, 2006
Para ti
Para ti que vais comigo agora,
neste pedaço de caminho,
abro minhas mão,
minhas lágrimas e os meus risos
e me atormento no corpo
para descansar no teu carinho
Para ti que vais comigo agora,
neste pedaço de tempo ,
trouxe duas estrelas de onde vim.
Guarda-as junto à tua noite
porque, quando chegar o momento,
uma te pedirei para mim.
Sunday, October 01, 2006
valsa dos amantes
há um sorriso pequeno
nos labios que amei
faz tempo que te não via
e ao ver-te pensei
estás mudada,
estou mudado
e dos jovens que um dia
se amaram nasceu este fado
há um sorriso pequeno
no homem que eu sou
iniciamos o amor
quando o amor nos chegou
não me esqueço,
não te equeças que
inocentes, escondidos,
escondemos o amor feito às pressas
não penses que te vejo
como outrora,
a vida esgota a vida
hora a hora
o tempo gasta o tempo
e marca a gente
o espelho mostra
como eu estou diferente,
não estou novo
não sou novo
mas não peças que a vida
te apague do fundo de mim
Jorge Fernando
Wednesday, September 27, 2006
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
Monday, September 11, 2006
Dá-me um toque de mão
e mostra-me a terrra molhada.
Leva-me descalça pelo caminho
até que a noite seja madrugada.
Dá-me o fruto que colheres da árvore
e molha-me com a água da fonte.
Friday, September 08, 2006
HELP ME MAKE IT THROUGH THE NIGHT
Take the ribbons from my hair shake it loose and let it fall
Laying soft against your skin like the shadows on the wall
Come and lay down by my side till the early morning light
All I'm taking is your time help me make it through the night
I don't care who's right or wrong and I won't try to understand
Let the devil take tomorrow Lord tonight I need a friend
Yesterday is dead and gone and tomorrow's out of sight
And it's sad to be alone help me make it through the night
(Kris Kristofferson)
Tuesday, August 29, 2006
Do Mundo
Quem anel a anel há-de por-me a nu os dedos
Quando me arrancarão a camisa,
Quando se verá o torso e braço a braço
Todo o peso
Apoiado á luz ?
Alguém me tocará para que eu estanque.
se tivesse escondido entre objectos
exaltados
uma estrela e o seu combustível.
desfaçam devagar o que me liga
primeiro a cada estado do mundo,
depois à memória.
Desfaçam-me do nome, o grande coágulo
de sangue,
umbigo que habilmente se desamarra.
todas as coisas pequenas que em cercam,
para que servem
elas? Desembaracem-me:
o cântaro cheio da força das dedadas,
o copo coriscando,
garfos e o seu fogo, facas e o seu fogo, a carne
profunda na minha carne pela boca
devoradora,
louça e o seu fogo.
Alguém há-de saber de tanto fôlego junto.
Basta a mão direita para quebrar a água
misteriosamente, a mão
para devolver-me à fonte.
Não é preciso que seja raiada, essa pessoa
Leve e potente, só
que finque no meio da dança um pau em brasa
com a floração: quero que me pare, que me abra.
que use a chave da minha obscuridade.
Antes de me terem chamado com água dentro da pedra,
gosto amargo, unhas
e dentes.
A seda com que teci a malha entre pedaços humanos:
membros criando um espaço, respiradouros,
anéis rudes
nas cabeças, uma
beleza viva.
Alguém há-de tocar-me com um dedo,
alguém
há-de pôr-me um selo.
Herberto Helder
Tuesday, August 01, 2006
Liberté
Sur mes cahiers d'écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J'écris ton nom
Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J'écris ton nom
Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J'écris ton nom
Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l'écho de mon enfance
J'écris ton nom
Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J'écris ton nom
Sur tous mes chiffons d'azur
Sur l'étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J'écris ton nom
Sur les champs sur l'horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J'écris ton nom
Sur chaque bouffée d'aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J'écris ton nom
Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l'orage
Sur la pluie épaisse et fade
J'écris ton nom
Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J'écris ton nom
Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordentJ
'écris ton nom
Sur la lampe qui s'allume
Sur la lampe qui s'éteint
Sur mes maisons réuniesJ
'écris ton nom
Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J'écris ton nom
Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J'écris ton nom
Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J'écris ton nom
Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J'écris ton nom
Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J'écris ton nom
Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J'écris ton nom
Sur l'absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J'écris ton nom
Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l'espoir sans souvenir
J'écris ton nom
Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommerLiberté.
Paul Éluard
Monday, July 31, 2006
Tuesday, July 25, 2006
Sunday, July 23, 2006
Post 100º.
Hoje antes de sair para a praia fui procurar um livro que se me seduzisse lê-lo.
Quantos livros temos que comprados pelo autor que os escreveu, pelo título ou pelas palavras que estão escritas na aba do verso da contracapa continuam olhando para nós na estante sem que as nossas mãos os agarrem mais?
Este que hoje agarrei é um desses casos de amor abandonado: Adeus, minha única, de Antoine Audouard, das edições ASA.
Não lembro de ouvir falar deste escritor mas recordo que quando o comprei, há mais de um ano, retive-me na história de amor de Heloísa e de Abelardo, passada no Séc XII, em Paris.
Encantei-me, no meio do vento, do Sol e do barulho e cheiro do mar!
Marquei a página 22 onde lê a frase dita por uma das personagens: Sê feliz e vai, porque nada perdura. Mas lembra-te sempre de quanto te amei.
Quantas vezes na nossa vida ouvimos ou fomos capazes de dizer (porque dizer deve ser sentir) algo semelhante quando se percebe que o caminho bifurca?
Fiquem bem e obrigada pelas vossas visitas por entre os meus 100 posts!
Friday, July 21, 2006
Dá-me a tua mão: vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe
entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo
e que é a linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia
por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo,
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
Miguel Torga
Monday, July 17, 2006
Monday, July 10, 2006
LA LUNA ASOMA
Cuando sale la luna
se pierden las campanas
y aparecen las sendas
impenetrables.
Cuando sale la luna,
el mar cubre la tierra
y el corazón se siente
isla en el infinito.
Nadie come naranjas
bajo la luna llena.
Es preciso comer
fruta verde y helada.
Cuando sale la luna
de cien rostros iguales,
la moneda de plata
solloza en el bolsillo.
F. Garcia Lorca
Tuesday, July 04, 2006
Monday, July 03, 2006
Monday, June 26, 2006
Caminho II
Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
Bom dia, companheiro...te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.
É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.
É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto
Que chorámos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.
Caminho III
Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada...
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.
Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada...
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!...
Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!...
Deixai-me chorar mais e beber mais,
perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar... encher a alma.
Camilo Pessanha
Sunday, June 25, 2006
Friday, June 23, 2006
Sunday, June 11, 2006
Os Vinte Poemas
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me amou, às vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la o meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que fez branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.J
á não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Carlos Drummond de Andrade
Tuesday, June 06, 2006
No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor, o descanso
E essa paz infinita
No seu corpo, minhas mãos
Se deslizam e se firmam
Numa curva mais bonita
No seu corpo o meu momento
É mais perfeito
E eu sinto no seu peito
O meu coração bater
E no meio desse abraço
É que eu me amasso
E me entrego pra você
E continua a viagem
No meio dessa paisagem
Onde tudo me fascina
E me deixo ser levado
Por um caminho encantado
Que a natureza me ensina
E embora eu já conheça bem
Os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado
Pelos seus carinhos
E só me encontro se me perco
No seu corpo
Roberto Carlos
Não aprecio o género de música do Roberto Carlos, mas gosto deste poema, sobretudo quando cantado pela Maria Bethânia ou pela Simone
Tuesday, May 23, 2006
Tuesday, May 16, 2006
Friday, May 12, 2006
Thursday, May 11, 2006
Sunday, May 07, 2006
Saturday, May 06, 2006
Tuesday, May 02, 2006
DO MAR
Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos.
Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.»
Fiama Hasse P. Brandão
Monday, May 01, 2006
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
Friday, April 28, 2006
Estou Além
Nao consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra nao chegar tarde
Nao sei de que é que eu fujo
Será desta solidão?
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem
quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem nao conheci
Esta insatisfação
Nao consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar
a procurar
A minha forma
O meu lugar
....
António Variações
Thursday, April 27, 2006
Wednesday, April 26, 2006
Não posso adiar o amor para outro século
não posso ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite
e arda sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite
pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século
a minha vida nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
(Antonio Ramos Rosa)
Tuesday, April 25, 2006
Sunday, April 23, 2006
Barco Negro
De manhã, que medo que me achasses feia,
acordei tremendo deitada na areia.
Mas logo os teus olhos disseram que não!
E o sol penetrou no meu coração.
Vi depois numa rocha uma cruz
e o teu barco negro dançava na luz...
Vi teu braço acenando entre as velas já soltas...
Dizem as velhas da praia que não voltas.
São loucas... são loucas!
Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.
No vento que lança areia nos vidros,
na água que canta no fogo mortiço,
no calor do leito dos bancos vazios,
dentro do meu peito estás sempre comigo.
Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.
David Mourão Ferreira
Thursday, April 20, 2006
Wednesday, April 19, 2006
Encosta a tua face,
tão perto quanto conseguires
perceber o respirar.
Sente a pele sem a tocares
e olha os lábios.
Centra-te na sua forma
e goza o sorriso que é teu, ali.
Observa, devagar, cada pequena ruga,
cada pequeno sinal dessa face
e passa suavemente as mãos pelo cabelo.
Os olhos que, em cada momento atrás,
foram sempre porto de partida,
são agora, finalmente, o teu repouso.
Prepara-te para suspirar num silêncio.
Fecha os teus olhos para depois admirar:
são os contornos das pestanas,
olhadas uma a uma,
e os teus dedos que queres ver passear
naquelas pálpebras.
Depois, perde-te naquele
caleidoscópio de cores invisíveis:
viste o infinito
do olhar?
Tuesday, April 18, 2006
Sei que o quotidiano nas sociedadees ocidentais é complicado, cheio de fragilidades e de problemas, que não deixam espaço para sorrisos.
Se repararem nas faces que se cruzam por nós, elas são espelho de preocupações e de medos.
Quantas vezes penso na última vez que cantei alto pela casa ou que troquei duas passadas de dança em frente do aspirador(e o aspirador não avariou).
Também me parece que os afectos, as emoções não trazem alegria: muitas vezes as frases escritas só mostram a dor, a saudade, a desilusão. Fernando Pessoa já dizia que o poeta é um fingidor, pelo vistos sofredor, já que até finge a dor que não sente!
Mas eu tenho tantas saudades da alegria como se ela fosse externa a mim e não o é.
Ah..como eu gosto de olhar rosto dos meus filhos pela manhã ou no final de um dia exasperante de trabalho!
Gosto de ver as brumas da manhã (quando me levanto cedo rsrs) sobre o mar.
Como gosto de me rir contigo e tocar-te com a brincadeira das palavras.
Ainda me deslumbro com as cores cores das flores, com azul imenso do mar.
E o som da musica que entra pela alma?
Sentir a pele, o cheiro e a alma da natureza.
Nada disto tem custos, nada disto precisa de mais dinheiro no banco!
Ainda invento a alegria
mas o que é verdadeiro
era senti-la minha
nascida de dentro
isso eu gostaria
Beije a alegria quando ela passa (Osho)
Sunday, April 16, 2006
Há qt tempo que não falava da Loucura!
Padre, perdoa porque acabei de colocar mais um
post.
Perdoa porque não me dediquei a boas causas
enquanto estive aqui 5 minutos a escolher mais uma foto
e a falar de poesia.
Padre perdoa porque devia ter ido à igreja e
depois devia ter ficado a falar mal da vizinha
(porque do vizinho só se fala bem).
Padre perdoa porque não estou
fazer contas a mais um subsidio
para a uma qq organização que ajuda os 'pobrezinhos'.
Padre perdoa, porque declaro o meu IRS pela Internet e
pago os meus impostos do mesmo modo.
Deus perdoa a humanidade.
Vou fazer uma festa ao meu cão: espero que não seja pecado!
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Andersen
Wednesday, April 12, 2006
Hoje não há escuridão
na noite profunda,
não há medos!
Os olhares perdem-se
em tempestade
de azul e de desejo revolto
beijam-se as bocas
em cada palavra dita
e os corpos
prometem-se eternos,
naquele momento.
Olha-se o céu
e hoje, lua plena
não há teatro,
não há cena,
só desliza suavemente
sobre a pele, o cetim
do véu