Sunday, November 12, 2006

Stultitiae Laus




(…) Sou eu mesma, como vedes; sim, sou eu aquela verdadeira dispenseira de bens, a que os italianos chamam Pazzia e os gregos Mória. E que necessidade havia de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante? Se há alguém que desastradamente se tenha iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me conhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras que são a imagem sincera do pensamento. Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão. Qualquer, pois, que seja o raciocínio feito para se mostrarem diferentes do que são, dois compridos orelhões descobrirão sempre o seu Midas.(…)

in Elogio da Loucura, Erasmo de Roterdão

2 comments:

Lúcio Ferro said...

Óptimo som. Como é habitual. Já tinha saudades de vir aqui. Por acaso não terás uns limões para fazer caipirinhas?

Anonymous said...

Limas, servem???
Já tinha saudades de te 'ver', Lobo!
Beijo