Tuesday, August 29, 2006






















Do Mundo

Quem anel a anel há-de por-me a nu os dedos
Quando me arrancarão a camisa,
Quando se verá o torso e braço a braço
Todo o peso
Apoiado á luz ?
Alguém me tocará para que eu estanque.
se tivesse escondido entre objectos
exaltados
uma estrela e o seu combustível.
desfaçam devagar o que me liga
primeiro a cada estado do mundo,
depois à memória.
Desfaçam-me do nome, o grande coágulo
de sangue,
umbigo que habilmente se desamarra.
todas as coisas pequenas que em cercam,
para que servem
elas? Desembaracem-me:
o cântaro cheio da força das dedadas,
o copo coriscando,
garfos e o seu fogo, facas e o seu fogo, a carne
profunda na minha carne pela boca
devoradora,
louça e o seu fogo.
Alguém há-de saber de tanto fôlego junto.
Basta a mão direita para quebrar a água
misteriosamente, a mão
para devolver-me à fonte.
Não é preciso que seja raiada, essa pessoa
Leve e potente, só
que finque no meio da dança um pau em brasa
com a floração: quero que me pare, que me abra.
que use a chave da minha obscuridade.
Antes de me terem chamado com água dentro da pedra,
gosto amargo, unhas
e dentes.
A seda com que teci a malha entre pedaços humanos:
membros criando um espaço, respiradouros,
anéis rudes
nas cabeças, uma
beleza viva.
Alguém há-de tocar-me com um dedo,
alguém
há-de pôr-me um selo.
Herberto Helder

4 comments:

Papoila said...

Lua! Voltaste, visitaste o campo e viste o selo e gostaste... fiquei contente! Belo poema de Helberto Helder! Estou esperando o selo que alguém virá colocar-me. Beijinhos

Lúcio Ferro said...

Olá! Herberto Helder? Lamento, não gosto. Acho-o maçudo, confuso e com falta de ritmo.

Tens umas laranjas?

Anonymous said...

Apreciei o poema de
Herberto Helder!

Fico muito feliz
com sua presença em meu canto.
Seu Espaço eu admiro.

Beijinho
ConchitaMachado

Anonymous said...

BON DEPART