Sunday, June 11, 2006





















Os Vinte Poemas
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me amou, às vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la o meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que fez branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.J
á não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Carlos Drummond de Andrade

8 comments:

Anonymous said...

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade." beijocaaa boa semana

Lúcio Ferro said...

Hum... Demasiado romântico para mim...

Bom fim de semana, beijo.

Ligada à Terra said...

não deixaste os limões, Lobo rsrsrs Bom fim de semana tb para ti.

Papoila said...

O mesmo autor, Carlos Drummond dá-te a resposta..., ninguém melhor que ele...
Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Beijo

Isa e Luis said...

Olá

Boa escolha , amei!


Beijjinhos muitos


Isa

Lúcio Ferro said...

Hoje trago uma maçã para compensar!

Dás-lhe uma dentadinha?..

Anonymous said...

sob os meus dedos um sinal de fogo
a labareda que consome a tarde
a geada que se espalha nos cabelos
e como um lenho velho o tempo arde

posso escrever a monografia lenta
do vento nos gemidos de um moinho
a esmagar a semente do tédio
devagar somo se segredasse mistérios

posso evocar o riso adolescente
soltar as tranças do primeiro beijo
tecer grinaldas de leves açucenas
deixar que as pálpebras se fechem
sob o sol dourado do desejo

posso pintar o céu de alazões rubros
despertar vendavais nos nossos dias
posso inventar a síntese do ciúme
a raíz quadrada da inquietude
o almiscarado desejo do teu corpo

lavrar o incêndio último dos corpos
e depois deixar que a neve cubra tudo
do mais branco silêncio...

beijuuuuu :o) pequeninita

Lúcio Ferro said...

Um óptimo fim de semana para ti. Brigada pela espreguiçadeira. Vai uma laranjada?..